O que quer a Liga Spartakus?

 

 

II

 

        A realização de sociedade socialista os a mais grandiosa tarefa que, na história do mundo, já coube a uma grande classe e a uma revolução. Esta tarefa exige uma completa transformação do Estado e a completa mudança nos fundamentos econômicos e sociais da sociedade.

        Esta transformação e esta mudança não podem ser decretadas por nenhuma autoridade, comissão ou Parlamento: só a própria massa popular pode empreendê-las e realizá-las.

        Em todas as revoluções anteriores, era uma pequena minoria de povo que conduzia a luta revolucionária, que lhe dava os objetivos e orientação, utilizando a massa aapenas como instrumento para fazer triunfar seus próprios interesses, os interesses da minoria. A revolução socialista é a primeira que só pode triunfar no interesse da grande maioria e graças à grande maioria dos trabalhadores.

        A massa do proletariado é chamada não só a fixar claramente o objetivo e a orientação da revolução, mas é preciso que ela mesma, passo a passo, através da sua própria atividade, dê vida ao socialismo.

        A essência da sociedade socialista consiste no seguinte: a grande massa trabalhadora deixa de ser uma massa governada, para viver ela mesma a vida política e econômica na sua totalidade e para orientá-la por uma auto-determinação consciente e livre.

        Assim, da cúpula do Estado à menor comunidade, a massa proletária precisa substituir os órgãos herdados da dominação burguesa: Bundesrat (Conselho Federal), parlamentos, conselhos municipais, pelos próprios órgãos de classe, os conselhos de operários e soldados. Precisa ocupar todos os postos, controlar todas as funções, aferir todas as necessidades do Estado pelos seus próprios interesses de classe e pelas tarefas socialistas. E só por uma influência recíproca constante viva, entre as massas populares e seu organismo, os conselhos de trabalhadores e de soldados, é que a atividade das massas pode insuflar ao Estado um espírito socialista.

        Por sua vez, a transformação econômica só pode ser realizada sob a forma de um processo levado a cabo pela ação das massas proletárias. No que se refere à socialização, secos decretos emitidos pelas autoridades revolucionarias supremas não passam de palavras ocas. Só o proletariado, pela sua própria ação, pode transformar o verbo em carne. Numa luta tenaz contra o capital, num corpo a corpo em cada empresa, graças à pressão direta das massas, às greves, graças à criação dos seus organismos representativos permanentes, os operários podem alcançar o controle e, finalmente, a direção efetiva da produção.

        As massa proletárias devem aprender, de maquinas mortas que o capitalista instala no processo de produção, a tornar-se dirigentes autônomas desse processo, livres, que pensam. Devem adquirir o senso das responsabilidades, próprio de membros atuantes da coletividade, única proprietária da totalidade da riqueza social. Precisam mostrar zelo sem o chicote do patrão, máximo rendimento sem o contra-mestre capitalista, disciplina sem sujeição e ordem sem dominação. O mais elevado idealismo no interesse da coletividade, a mais estrita auto-disciplina, verdadeiro senso cívico das massas constituem o fundamento moral da sociedade socialista, assim como estupidez, egoísmo e corrupção são os fundamentos da sociedade capitalista.

        Só pela sua própria atividade, pela sua própria experiência, pode a massa operária adquirir todas essas virtudes cívicas socialistas, assim como os conhecimentos e as capacidades necessárias à direção das empresas socialistas.

        A socialização da sociedade não pode ser realizada em toda a sua amplitude senão por uma luta tenaz, infatigável da massa operária em todos os pontos onde o trabalho enfrenta o capital, onde o povo e a dominação de classe da burguesia se encaram, olhos nos olhos. A libertação da classe operária deve ser obra da própria classe operária.

 

(Este texto, do qual publicamos apenas a segunda parte, apareceu pela primeira vez no jornal spartakista Die Rote Fahne, em 14 de dezembro de 1918, tendo sido adotado como programa do Partido Comunista Alemão. O Programa está publicado na integra em Rosa Luxemburgo, A Revolução Russa, Petrópolis, Vozes, 1991.)